Líderes já sabem que a felicidade é assunto sério nas organizações, mas práticas comumente entendidas como positivas ainda estão distantes de promovê-la
Líderes em todo o mundo já tomaram conhecimento que felicidade é um assunto sério, estudado cientificamente e que impacta diretamente no resultado das empresas. Contudo, as práticas comumente interpretadas como positivas ainda estão distantes de promover uma transformação nas organizações. Máquinas de café sofisticadas, salas de descompressão, brinquedoteca para adultos, entre outros promovem emoções positivas, mas são prazeres de efeito passageiro, não se traduzindo em benefício duradouro.
É importante deixar claro que essas ações ajudam a recrutar e estimular satisfação, contentamento e conforto, mas não fornecem a energia e a ativação que impulsionam o contínuo envolvimento por parte do colaborador. Portanto, se uma organização está tentando investir em engajamento, é melhor investir tempo e esforço em estratégias que aumentam a felicidade e, por conseguinte, geram e reproduzem engajamento. A exemplo de reconhecimento: alinhamento de necessidades e valores, a conexão social, além da ajuda às pessoas a descobrirem e usarem seus pontos fortes e encontrarem significado no trabalho que desempenham.
“Aqueles que buscam a felicidade nos prazeres, na riqueza, na glória, no poder e no heroísmo são tão ingênuos quanto uma criança que tenta pegar o arco-íris para vesti-lo como um casaco”. (Dilgo K. Rinpoche)
Melhor ser feliz do que ser engajado!
O cientista Eric Karpinski explica em seu livro “Put Happiness to Work” (2021, sem tradução para o português) que os líderes focam seus investimentos no elemento individual “engajamento” por não haver dúvidas de sua correlação com a produtividade. Porém, mesmo com bilhões de dólares investidos nas últimas décadas, segundo dados da Gallup, nos Estados Unidos, nenhuma mudança significativa foi alcançada nos últimos 20 anos.
Baseado nos dados citados e em suas pesquisas em grande empresas como Intel, IBM e T-Mobile e Deloitte, o autor questiona a limitação das métricas geradoras de lealdade, comprometimento e disposição para crescimento e questiona: “E se outra coisa tiver uma influência maior na produtividade das pessoas no local de trabalho?”.
Karpinski explica que numa pesquisa feita com 2.000 pessoas questionando, “em qual das seguintes opções você teria mais probabilidade de investir tempo e energia: sua felicidade ou seu engajamento?”, 80% dos entrevistados escolheram a felicidade.
“As pessoas não desejam ser engajadas, desejam ser felizes”, diz Karpinski. Segundo a análise do autor, os principais fatores propulsores desse bem estar subjetivo são:
- Criação de Ciclos Virtuosos. Situações em que se coloca esforço adicional na mudança, tornando-as mais fáceis e ágeis. Ser feliz é uma sensação boa, cria um desejo e motivação para fazer aquela atividade novamente. “Comece com os membros da equipe mais entusiasmados com essa categoria de ideias, aqueles que gosto de chamar co-conspiradores”. As emoções positivas geradas são contagiosas, geram curiosidade e toda a equipe acaba se envolvendo.
- Os Ciclos Virtuosos como estratégias. “Por exemplo, quando ficamos bons em apreciar uns aos outros, isso ajuda a construir fortes conexões sociais, ou quando aprendemos sobre os pontos fortes das pessoas, torna o reconhecimento mais poderoso”.
- Gratidão. Mostrar reconhecimento e apreço é uma das maneiras mais simples, baratas e eficazes de aumentar a felicidade e o envolvimento no local de trabalho. “Mas, embora a maioria dos líderes concorde que a apreciação é importante, eles não estão dando feedback positivo eficaz o suficiente. Uma pesquisa recente com 800 organizações mostrou que 80% dos líderes seniores acreditam que os funcionários são reconhecidos pelo menos uma vez por mês, mas apenas 22% dos colaboradores relataram que seus colegas são reconhecidos com frequência”.
- Começar uma prática simples de reconhecimento. Investir dois minutos por dia escrevendo para algumas pessoas especificamente o que você aprecia nelas, não apenas ajuda ao outro, mas também reconfigura o cérebro para perceber as coisas boas com mais frequência. “Os seres humanos são grandes detectores de autenticidade, evite expressões vazias como ‘bom trabalho’. Sem detalhes, as expressões não ajudam ninguém a se sentir valorizado e podem, na verdade, ter efeito contrário, sinalizando que você não prestou atenção suficiente para saber como a pessoa contribuiu”.
- Garantir a segurança psicológica. “Quaisquer esforços para criar conexões de alta qualidade serão um tiro pela culatra se sua equipe sentir que será humilhada, rejeitada ou punida por falar, compartilhar ideias ou pedir ajuda”.
- Conhecer quem são os colegas, fora do trabalho. Uma chave para construir confiança e conexão social. “Comece as reuniões com uma pergunta de verificação rápida, pedindo às pessoas que mencionem seus dons, hobbies, primeiro emprego ou o melhor conselho que receberam. Misture tudo abrindo reuniões de equipe com uma apresentação de Pecha Kucha, que consiste em uma pessoa compartilhando dez fotos de sua vida não-profissional — família, animais de estimação, interesses — com apenas 10/20 segundos para falar sobre cada imagem. Sem tempo para histórias completas, este exercício ajuda as pessoas a aprenderem rapidamente umas sobre as outras e a plantar sementes para outras conversas após a reunião”.
Inúmeros autores vêm se debruçando ao longo das últimas décadas em cima dos resultados da Ciência da Felicidade, que compreende os estudos nas áreas de neurociência, ciências sociais e psicologia positiva. Um dos modelos mais aplicados desse conhecimento nas organizações é o acrônimo PERMA-V, desenvolvido pelo psicólogo Martin Seligmann:
P = Positive Emotions (Emoções Positivas)
E = Engajement (Engajamento)
R = Relashionships (Relacionamentos)
M = Meaning (Significado)
A = Accomplishment (Realização)
V= Vitalidade (Saúde, Vitalidade — recentemente atualizado por Emiliya Zhivotovskaya)
No fim das contas, trata-se de esforço intencional e tarefas contínuas focados em elementos positivos da experiência humana, de reconhecimento, gratidão, valorização, realização e energia vital. De ter propósito, objetivos superiores, estar disposto a ajudar, colaborar, cooperar, formando um ciclo virtuoso-produtivo, onde todos são beneficiados. Inclusive a empresa. De acordo com dados publicados no Harvard Business Review, colaboradores felizes são 300% mais inovadores, 31% mais produtivos, 85% mais eficientes, além de reduzirem o absenteísmo, turnover. Pessoas felizes, inclusive, vivem mais (Sonja Lyubomirsky, Universidade da Califórnia).
“Os melhores momentos de nossas vidas não são os momentos passivos, receptivos e relaxantes… Os melhores momentos geralmente acontecem se o corpo ou a mente de uma pessoa for levado até os seus limites em um esforço voluntário para realizar algo difícil e que vale a pena”. (Mihaly Csikszentmihalyi)